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Araçuaí, cidade mineira, com o nome de origem indígena que significa: “terra das Araras grandes” está localizada no nordeste de Minas Gerais, no médio Jequitinhonha, a 678 km de distância da capital Belo Horizonte.

Localizada entre duas Chapadas a do Piauí a leste e a do Candonga a Oeste, Araçuaí é uma longa planície, apertada pelas serras mencionadas acima, fundada na confluência do Rio Araçuaí e o Córrego Calhauzinho a margem direita de ambos.
O clima do município de Araçuaí é quente e seco nas catingas, quente e úmido na mata. O grau da temperatura mais elevada varia de 33° a 34° graus.
 Araçuaí é um município que tem registrado no surgimento da sua História, vários conflitos de autoritarismo, disputa de poder, discriminação racial e de classe, que se estenderam durante um longo período.
No século XIX, o padre Carlos Pereira Freire de Moura iniciou a implantação de um povoado com o nome de Barra do Pontal, no vértice da confluência dos rios Araçuaí e Jequitinhonha.
A localização do povoado de Barra do Pontal era privilegiada por atrair pessoas para o comercio, por apresentar um clima agradável e pela movimentação de canoeiros e moças que movimentavam aquele lugarejo, contribuindo para o crescimento do mesmo.
 O padre Carlos Pereira Freire de Moura era descente de família portuguesa, que chegou ao Vale do Jequitinhonha em busca de pedras preciosas como: turmalina, topázio, ametista e águas marinhas. Esse sacerdote trazia consigo princípios míticos de autoritarismo e almejava fundar uma cidade na confluência dos dois rios: Araçuaí e Jequitinhonha. A cidade dos sonhos de padre Carlos Pereira seria diferenciada, com base nos costumes familiares, voltados para as tradições religiosas.
Naquela região bonita pela paisagem do encontro dos dois, habitava gente simples, além de existir um bordel por ali. Esse bordel era frequentado pelos canoeiros que após uma imensa jornada de trabalho aproveitavam o fim de semana para amarem e beberem.
Os Canoeiros do Jequitinhonha eram homens sem compromissos com a vida. Passavam pela barra do Pontal, apenas de passagem. Não eram aventureiros ou conquistadores á procura de fortuna. Apaixonados pelos seus barcos iam e vinham ganhando o suficiente para viverem independentes. O que importava para os canoeiros era ser livre sem compromisso espécie, não buscavam fundar raízes afetivas.
Linda, Vânia, Jerusa, Flor, Lu, Margô, Neide e Sonia, preparavam para exercer sua difícil profissão e recebiam os canoeiros no estabelecimento de trabalho, que era o bordel.
Onde havia canoeiros, existiam mulheres, bebidas alcoólicas e muita farra.O padre não aceitava em sua aldeia, muito menos na cidade que planejava fundar.
De acordo com a autora Augusta Figueiredo, no livro A Mulata Luciana no Vale do Jequitinhonha, relata que após um sermão na igreja, o padre Carlos de Moura, proibiu o bordel, bebedeiras e meretrizes na nova vila. Expulsando dali, dois meses após a festa de Pentecostes as infelizes mulheres.
As mulheres seguiram o rio acima e foram acolhidas na fazenda Boa Vista da Bacia do Calhau. Cercada de vegetação verde no alto de uma colina, enriquecendo a paisagem com sua beleza e tranquilidade, assim era descrita da proprietária Luciana Teixeira.
A História de Araçuaí teve inicio em 1817, quando Luciana Teixeira decidiu realizar um loteamento ás margens do Rio Araçuaí e do Ribeirão Calhau, cedendo suas terras as imigrantes. Luciana Construiu 10 casas para abrigarem as meretrizes.
As moças ao se mudarem para a fazenda Boa Vista, mudaram os seus hábitos, participando das atividades sociais que eram realizadas na fazenda, passaram a se comportar sem escândalos, usando roupas discretas e mantinham a casa, o jardim impecáveis no cuidado.
 Atraídos pelas mulheres os canoeiros mudaram de porto, desenvolvendo naquele local um Arraial, com nome de Calhau, dando origem a atual cidade de Araçuaí.
Os registros que se tem sobre Luciana Teixeira Lages são poucos, sua presença é relatada por historiadores como Augusto de Saint-Hilaire e Augusta Figueiredo.
Luciana Teixeira se tornou famosa pelo poder, dinheiro que possuía e pela bondade em acolher o próximo independente de classe social. Era de cor negra, conhecida como a mulata Luciana. Sua energia estava mobilizada para realização de obras sociais. Ajudou o padre Carlos na construção da Igreja do Bom Jesus e participava dos eventos da igreja.
Quando o naturalista Augusto de Saint-Hilaire, em 1817 visitou o norte e o nordeste de Minas, passou pela região onde hoje é município de Araçuaí, hospedou-se com uma velha mulata de nome Luciana Teixeira, proprietária da Fazenda Boa Vista, localizada á direita do rio Araçuaí e registrou em seu livro sua passagem.
Augusto de Saint-Hilaire era cientista francês, veio ao Brasil acompanhado o duque de Luxemburgo designado embaixador extraordinário da França junto á corte Portuguesa.
Percorreu durante seis anos diversas províncias iniciando pelo de Minas gerais. Possuía interesse em observar plantas, animais, os índios, rios, os costumes das pessoas que habitavam aquela região. Dou para Luciana muitas resmas de papel para escrever uma vez que a mesma ensinava a ler, escrever e a ter uma profissão as crianças que adotou. 

 

O NASCIMENTO DA TERRA DAS ARARAS GRANDES. 

Eu sou um título. Clique duas vezes para editar.

Conhecido como Arraial dos crioulos, essa comunidade quilombola surgiu com a formação da cidade de Araçuaí, sendo o primeiro bairro a se constituir. Da sua fundação até a presente data da pesquisa, não existem dados de registros por escritos em que ano, dia e mês chegaram os seus primeiros moradores.
 Ao escrever sobre a constituição dessa comunidade quilombola, a pesquisadora recorreu às fontes de pesquisas de antigos moradores, que relatam a historia oralmente passando de geração em geração.
As informações relacionadas ao surgimento da comunidade Arraial dos Crioulos se baseiam em dados históricos que são sustentados em duas versões. 

A Comunidade Arraial dos Crioulos.

De onde vieram os primeiros moradores.

A 1° versão do surgimento desse Arraial foi fornecida pelo senhor Sebastião (Tião Artesão – já falecido), natural da comunidade de Girau em uma conversa com Geralda Soares (Gera).
 Segundo o senhor Sebastião, antigamente, antes da libertação dos escravos, próximo da região do Girau (Comunidade rural da cidade de Araçuaí) existia uma fazenda, cujos donos eram um casal que não tinham filhos, possuindo muitos escravos. Esse casal tinha o temperamento forte, além de maltratarem seus escravos.

Conta-se na história que a sinhá tinha ciúmes das meninas negras (adolescentes), pois o esposo abusava delas na senzala.
 No alto da serra existia uma aldeia indígena, onde os negros tinham conhecimento e amizades com os índios dali.  
A opressão dos senhores a cada dia que passava se tornava maior, a ponto dos negros se organizarem e tramarem uma revolta.
A trama dos negros ocorreu da seguinte maneira: primeiro mataram os donos da fazenda, depois expulsaram os empregados que existiam e fugiram para a aldeia onde se esconderam.
A repressão não demorou a vir. Foram enviados os “capitães do mato”, com cachorros ensinados para capturá – los.
Os índios ensinaram aos negros a fazer uma grande quantidade de Girau em volta dos morros, onde colocavam em cima pedras enormes. (girau é uma palavra indígena que significa camas de vara).
Quando os perseguidores começavam a subir o morro, os negros empurravam as pedras e fechavam os invasores. Essa situação durou muito tempo e há hipótese que essa situação tenha ocorrido antes de 1888. Muitos desses negros foram capturados levados para a sede da fazenda e ali torturados até morrer. Outros fugiram e chegaram perto de Araçuaí, onde acamparam no assapexal, que existia no local onde hoje é o Arraial dos Crioulos. 

A 1° versão do surgimento desse Arraial foi fornecida pelo senhor Sebastião (Tião Artesão – já falecido), natural da comunidade de Girau em uma conversa com Geralda Soares (Gera).
 Segundo o senhor Sebastião, antigamente, antes da libertação dos escravos, próximo da região do Girau (Comunidade rural da cidade de Araçuaí) existia uma fazenda, cujos donos eram um casal que não tinham filhos, possuindo muitos escravos. Esse casal tinha o temperamento forte, além de maltratarem seus escravos.
Conta-se na história que a sinhá tinha ciúmes das meninas negras (adolescentes), pois o esposo abusava delas na senzala.
 No alto da serra existia uma aldeia indígena, onde os negros tinham conhecimento e amizades com os índios dali.  
A opressão dos senhores a cada dia que passava se tornava maior, a ponto dos negros se organizarem e tramarem uma revolta.
A trama dos negros ocorreu da seguinte maneira: primeiro mataram os donos da fazenda, depois expulsaram os empregados que existiam e fugiram para a aldeia onde se esconderam.
A repressão não demorou a vir. Foram enviados os “capitães do mato”, com cachorros ensinados para capturá – los.
Os índios ensinaram aos negros a fazer uma grande quantidade de Girau em volta dos morros, onde colocavam em cima pedras enormes. (girau é uma palavra indígena que significa camas de vara).
Quando os perseguidores começavam a subir o morro, os negros empurravam as pedras e fechavam os invasores. Essa situação durou muito tempo e há hipótese que essa situação tenha ocorrido antes de 1888. Muitos desses negros foram capturados levados para a sede da fazenda e ali torturados até morrer. Outros fugiram e chegaram perto de Araçuaí, onde acamparam no assapexal, que existia no local onde hoje é o Arraial dos Crioulos.

A Chegada dos Escravos ao

Arraial dos Criolos.

Alimentados pelo sonho de liberdade os escravos chegaram à terra desconhecida cercada de assapexal e banhada pelo córrego Calhauzinho.
O córrego Calhauzinho quando chovia, transbordava os seus limites físicos, aumentando o seu potencial hidrográfico, modificando a passagem e assustando os ribeirinhos em toda a sua extensão.
O senhor Sebastião relatou que ouviu de alguns moradores antigos, dentre dona Helena contavam que o Arraial era uma fazenda, abandonada pelo senhor germano.
Um belo dia, esse fazendeiro viu chegar às margens do Calhauzinho muitas famílias de negros com crianças. O fazendeiro ofereceu lhes um pedaço de terra onde poderiam “arranchar,” ali no assapexal (tipo de árvore com espeçura fina e grande, que nasce na beira dos córregos).
Os negros negociaram com o fazendeiro os quinhões de terra, em troca pagariam com as quartas de farinha, arroz (quartas medida daquela época para negociação). Eles desmataram o assapexal e fizeram pequenas casas de barro.
De acordo com o senhor Sebastião, Luciana Teixeira vivia nesse tempo, os negros trabalhavam para ela, mas não eram seus escravos.
 Esses negros participavam do momento cultural da cidade na festa do Rosário além de dançarem em determinada época próximos da Estação ferroviária Bahia Minas, outro tipo de dança que era o “Candombi”, que não era o candomblé.
No candombi, vestiam roupas de algodão, pintada de lama preta retirada do brejo. As calças iam até o meio da perna, já as camisas eram fechadas e de mangas três quartos. Usavam as sandálias de couro e um chapéu na cabeça. 

 

A 2° Versão da Historia de Como Surgiu o Quilombo Arraial

Na 2° versão da história de como surgiu o Arraial dos Crioulos, descrita com base na entrevista feita com o senhor João Batista Teixeira filho do Sr. Zé Dionísio (morador que possuía a maior extensão de dentro do bairro Arraial dos Crioulos) observa se informações diferentes.
Contar a história é reviver o passado, como se assistisse a um filme. O senhor João Batista Teixeira ao relembrar a história da sua família se emocionou transparecendo em sua fala serena e com muita emoção.
“O Arraial, antes era uma grande fazenda, que pertencia à família do meu tataravô paterno, repassada para ele como herança de seus antepassados.
Não sei de onde veio, a informação que tenho é que sempre moraram aqui no Arraial”.
“Está fazenda que hoje é o Arraial, era muito extensa e ia até o Gravatá (comunidade um pouco distante). Mas essa mesma fazenda foi tomada na “marra” dos meus tataravôs, por outra família”.
“Arlinda Pereira dos Santos, minha mãe, veio de uma roça que ficava no pé da Serra. Juca Pequeno era irmão da minha mãe, que eram filhos de Zé Pequeno”.
“Meu pai José Teixeira dos Santos, apelidado de Zé Dioniso, trabalhou na construção da igreja matriz carregando tijolos”.
Nessa época era o tempo de Frei José de Haas. Com o passar do tempo o Frei se tornou bispo e trouxe cinco freiras para o Colégio Nazareth.
As freiras convidaram o Sr. Zé de Dionísio para ser funcionário do educandário,
que trabalhou 36 anos, com isso se tornou tradição, para alguns membros da
família trabalhar lá. 
O Sr. Dionísio era magro, tranqüilo, respeitado por toda a comunidade.
Gostava muito de contar história do tempo dos escravos, sentado em frente à porta de sua casa em um banquinho.
A integração de Zé Dionísio com a comunidade do Arraial era grande, com esses laços o mesmo plantou mangueiras em seu quintal que era extenso, onde celebravam as missas aos domingos e a catequese ministrada pelas freiras.
Entre os moradores do Arraial na década de 1970 que se destacaram existiam o senhor Juca Pequeno. Seu Juca era um senhor pardo claro, de estatura baixa, que possuía apenas um filho que se chamava Joaquim.
Ele era curandeiro, muito procurado pela população pobre para tomar as garrafadas e remédios de raiz, que receitava e fazia questão de preparar.
Considerado como uma pessoa de respeito, muito sábio. Ele dizia que para ser curandeiro havia passado por um ritual de preparação.
Em um dos rituais seu Juca Pequeno ficou cinco dias no cupinzeiro para fechar o corpo. Com esse ritual o mesmo não adoeceria, o que parece ser verdade, pois morreu de velhice.
“Um dia os negro da senzala resolveu matar o Senhô e a Sinhá que era muito ruim para eles. Mas o Sinhô descobriu. Uma turma de negros foi castigada. A outra foi mandada trabaiá no cafezal. Outra morreu de pancada. A outra turma éramos nós. Mesmo assim o negro revoltou e matou os dois.” (Palavras de Juca Pequeno, em1976, para os estudantes do Campus avançado).

As Caracteristicas do Bairro Arraial dos Crioulos na sua Formação Inicial  .

Os antigos moradores tinham bulandeiras para fabricação da farinha de mandioca. Tal bulandeira era tocada a punho pelos homens, tinham engenho de pau tocado a bois para fabricar a rapadura e o açúcar da terra.
Nas margens do córrego Calhauzinho importante símbolo de recurso foi e é local de encontro das mulheres da comunidade havia enormes canaviais, milharal, arrozal e árvores frutíferas em abundância.
O Sebastião Gomes de Souza (conhecido por Crioulo) possuía uma fábrica de água ardente com nome registrado de Crioula. Foi desse lugar que nasceu o expedicionário JOSÉ DIAS DE OLIVIERA que serviu nos campos de batalha na Itália na 2° Guerra Mundial que começou em 1930 a 1945.
Nessa região do Arraial foi construída uma ponte sobre o Córrego Calhauzinho, para nela passar a FERROVIA BAHIA E MINAS, após o ano de 1940.
 A Comunidade quilombola Arraial dos Crioulos está localizada na área urbana da cidade de Araçuaí, na região do Vale do Jequitinhonha – Minas Gerais. A maioria das famílias reside na Rua Principal. A comunidade Arraial dos é composta aproximadamente de 90 famílias. A renda da população gira em torno da aposentadoria e do trabalho informal na zona urbana da cidade. Há pessoas assalariadas que mantém emprego fixo. (Fonte: Cedefes)
Este povoado até o ano de 1960 era considerado Zona Rural.

O Reconhecimento como Comunidade Quilombola

A Associação dos moradores Quilombolas do Bairro Arraial dos Crioulos, formada em 2.007, luta para conseguir o registro de posse da terra, uma vez que os mesmos não possuem. Outro conflito vivenciado é a poluição da água do Córrego Calhauzinho e o desmatamento das suas margens.
De acordo com o depoimento do senhor Geraldo Vicente Mendes Silva ex-presidente da Associação e colaborador do processo de reconhecimento por bairro quilombola, por ser uma comunidade Quilombola o bairro deveria ter os seguintes direitos:
*Um ônibus para levar às crianças a escola, uma vez que o bairro fica afastado
das escolas.
*Descontos nas contas de energia e luz.
*Ter um espaço organizado para a associação.
*Registro da posse da terra. 

 

FONTE: http://www.amde.ufop.br/tccs/Aracuai/Aracuai%20-%20Vilcimar%20Souza.pdf

 

Lira Marques, como é conhecida, nasceu em Araçuaí (MG), fruto do amor de Tarcísio Marques e Odília Borges Nogueira. Sua mãe era lavadeira e, no tempo de Natal, fazia presépios em barro cru para distribuir entre amigos e vizinhos. A pequena Lira fazia umas primeiras figurinhas, brincando com a cera usada pelo pai, que era sapateiro. Mais tarde, aprendeu a tirar o barro e a usar forno de lenha com a velha Joana Poteira.

A opção radical por um mundo melhor e justo marca a vida e a arte de Maria Lira, mulher meiga, que escolhe suas palavras com prudência e sabedoria. Na sua arte, misturam-se alegria e sofrimento; flores, bichos e pobreza; a revolta do fraco e a poesia.

Lira é uma educadora popular, que administrou cursos explicando os mistérios do barro e do fogo, a colheita das terras coloridas e seu uso na pintura. É também uma líder comprometida com a política social. Não sabe fazer discurso na praça, do alto do coreto. No entanto, com convicção, mostra a trabalhadores rurais e a pobres e analfabetos o que está errado e como deve ser mudado

Seus trabalhos artísticos, de caráter marcadamente pessoal, mas perfeitamente coerentes com a cultura do Jequitinhonha, já foram mostrados em muitas exposições organizadas por galerias e instituições diversas, tanto no Brasil como no exterior.

Mulher consciente e de personalidade forte, é uma verdadeira mestra no barro e na arte de viver, embora sem nunca ter frequentado uma academia de belas artes.

* Trecho extraído do texto: De  Lira o Barro: o mestrado de Maria Lira Marques Borges. Frei Francisco van der Poel, frei franciscano, pesquisador da cultura e religiosidade popular brasileira.

Lira Marques

Zefa (Josefa Alves Reis)

Nascida no interior de Sergipe, na cidade de Poço Verde, no ano de 1925, Josefa Alves Reis, filha de João Alves dos Reis e Josefa Batista dos Reis, foi criada no sertão da Bahia, driblando a seca. Durante uma delas acabou indo para Araçuaí, em 1962, onde começou a talhar a sua história.

Em Araçuaí, junto com Francisca, sua cunhada e grande amiga, que trabalhava como doméstica, Josefa foi buscando seu caminho e rompendo na vida

A Zefa artesã não veio de repente, passou cerca de dez anos de sua caminhada buscando encontrar sua verdadeira vocação que é o artesanato. Começou com pinturas e obras em barro, na verdade, uma mistura de barro úmido, farinha de trigo e cinza. Até sua matéria prima era original.

Abandonou o barro, após três breves e criativos anos, por acreditar que trabalhar com material estava prejudicando sua saúde.

Escolheu então a madeira e esculpiu com traços firmes e originais a sua obra.

Zefa se tornou mestra, conhecendo e sabendo como poucos explorar em suas peças as características naturais das madeiras da região. Emburana, cabiúna, vinhático, cedro, aroeira, braúna preta, jataipeba e outras. O que a natureza rica do Vale fornecia, ela transformava em arte.

Ela conta que hoje possui peças com colecionadores e amigos na Alemanha, França, Itália, Áustria, Holanda e nos Estados Unidos. Mesmo sendo uma das mais premiadas e importantes artistas do Vale do Jequitinhonha, vive de maneira simples e humilde. Nunca se preocupou em acumular posses. Sempre que vendia um de seus trabalhos, preferia comprar um bom pedaço de carne e fazer uma festa com seus vizinhos e amigos.

Desde a morte de Francisca, sete anos atrás, Mestra Zefa quase não trabalha mais a madeira com formão, facão e machado. Mas ainda orienta seus discípulos e recebe bem os visitantes, dividindo suas longas histórias e sabedorias acumuladas ao longo de uma vida.

*Adaptado do texto de João Teixeira Júnior

Coral Meninos de Araçuaí

A história do coral Meninos de Araçuaí poderia ser repleta de chavões. Há criança, pobreza, música, isolamento geográfico, dança, solidariedade. Mas ela tem mais. Ensina dignidade, resgata auto-estima e se baseia no educar com esperança. E, mesmo acontecendo no território árido e grande do Vale do Jequitinhonha – localizado no nordeste do estado de Minas Gerais, em uma extensão com 49 municípios –, é um projeto que, na sua essência, não abre espaço para piedade. Em nenhum momento, as mais de 70 crianças e adolescentes – de 7 a 14 anos – que participam ou já participaram do coral foram ou são encaradas como coitadinhas. Esse é o princípio que norteia os dois mais importantes mentores do projeto.O antropólogo Tião Rocha, presidente da premiada organização não-governamentalCentro Popular de Cultura e Desenvolvimento(CPCD), e Regina Bertola, diretora artística do grupo teatral de expressão internacional, Ponto de Partida, não perdem tempo com reclamações. São responsáveis pela criação de um grupo de vozes que emocionam qualquer ouvinte. Nem precisam sair por aí contando que pertencem a uma região que apresenta um dos maiores índices de carência e subdesenvolvimento econômico do mundo. Tião e Regina reforçam a todo momento que se trata de crianças talentosas, a despeito das mazelas sociais. "Falamos o tempo todo para eles que devem perceber e acreditar que o público os aplaude porque são muito bons, não porque são um grupo de menininhos pobres", afirma Tião Rocha. E é a pura verdade. A alta qualidade do trabalho apareceu cedo, no CD Roda Que Rola, gravado de forma independente, em 1998. Ele foi o primeiro produto após uma parceria que era para ter durado duas semanas e agora completa dez anos.

O começo

Havia uma inquietação nesses dois pesquisadores apaixonados pela cultura popular brasileira. Regina Bertola e Tião Rocha são educadores por nascimento. Mais do que a vocação para ensinar, têm ânsia por aprender. Ela, mineira de Barbacena, e ele, mineiro de Belo Horizonte, traçam sua história entrelaçando educação e cultura. Já faziam isso quando se conheceram, em uma roda de palestras organizada pelo movimento cultural que Regina realizava em sua cidade natal, em meados dos anos 80. Era lá que ela dava ênfase ao grupo teatral e musical Ponto de Partida, originado de atividades teatrais promovidas com as crianças de uma escola infantil em que lecionava. Tião foi um dos palestrantes e, no primeiro contato, já ficou evidente que um tinha muito a contribuir no trabalho do outro.

Era o período em que o antropólogo deixava a Universidade Federal de Ouro Preto. "Descobri que queria deixar de ser professor para ser educador", diz Tião. Mas qual é a diferença? "Professor ensina. Educador, aprende." Com essa idéia, ele fundou o CPCD, uma ong com o objetivo de reintegrar meninos e meninas dando a eles o direito de serem crianças. Tião emprestava seu conhecimento assessorando a pesquisa de cultura brasileira, base dos espetáculos do grupo de Barbacena. Regina oferecia sua paixão pelas artes, o conhecimento técnico musical e teatral e a facilidade do grupo em aderir a projetos sociais. 

Quem são esses meninos?

Um grupo de crianças em específico aproveitaria melhor ainda essa amizade. Em 1998, Tião pediu socorro a Regina. Diante dele, cerca de 40 meninos e meninas integrantes do Projeto Ser Criança – uma das ramificações do CPCD –, queriam formar um coral para agradecer à empresa patrocinadora a contribuição que recebiam. O problema era a desafinação. Mas o Ponto de Partida atendeu ao pedido e investiu bastante treinamento. Após duas semanas, uma conclusão. "Há muita musicalidade neles", disse Regina a Tião. A história poderia ter acabado, mas como esse ponto é mesmo de partida, o grupo quis continuar. Sugeriram a gravação do primeiro CD e o que houve a partir daquele momento já era bem mais do que poderiam imaginar.

O CD escancarou portas. Vendeu 38 mil cópias e as últimas notícias eram de que havia atingido o Reino Unido. A parceria continuou e, quatro anos depois, nasceu o espetáculo Ser Minas Tão Gerais, uma homenagem a Minas e sua arte, que teve a participação do cantor e compositor Milton Nascimento. Em 2004, o sucesso se transformou em DVD e emocionou até uma exigente platéia em Paris, um ano depois, no evento do Ano do Brasil na França. Regina credita o sucesso à capacidade de sonhar alto. "As pessoas vinham me falar de colocar os meninos no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e eu pensava em Paris. Juro!", diz, com bom humor. Os meninos se sentem assim e não almejam pouco. Sabem que são capazes e estão sendo tratados com e por profissionais de primeira. Por isso, trabalham duro. "Eles querem ser bons e estão realmente comprometidos", diz Regina. O prazer pelo que fazem não só aumenta a auto-estima de quem vive isolado em um dos bolsões mais representativos da pobreza no Brasil, como também resgata a dignidade de uma comunidade que assiste ao cruel destino de perder seus jovens para as lavouras de cana-de-açúcar. E os que realmente mostram intenção e talento para seguir uma carreira artística têm o potencial valorizado. O CPCD e o Ponto de Partida mantêm em Barbacena a Casa de Morada dos Meninos, onde os adolescentes dão continuidade aos estudos regulares e reforçam sua formação profissional. Até alçam vôos mais altos. Sabem onde está Michael Ribeiro, de 15 anos? Na Escola de Balé Bolshoi, em Joinville, feliz da vida.

III Encontro da Consciência Negra do Bairro Arraial 

 

A tradicional comunidade do Arraial dos Crioulos em Araçuaí (MG), reconhecida como área quilombola pelo governo federal, promove no dia 17 de novembro naquele bairro, o III Encontro da Consciência Negra.

Durante todo o dia foi realizadas atividades sobre o tema “ quilombola”.

É uma festa animada, com barraquinhas de comidas e bebidas típicas , além de apresentações culturais com grupos de dança e corais.

Filmagem feita pelo 2º Ano de Agroecologia do Campos IFNMG/Araçuaí

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